segunda-feira, 17 de agosto de 2009

O Poder da influência


Conjunto de relações, ou impacto das influências.

Todos os dias interagimos com uma diversidade de situações, relações e principalmente pessoas, a forma como reagimos frente estas relações definem o ritmo de nossos anseios, nossas esperanças, sobretudo o curso de nossas vidas.
Nós podemos nos relacionar com as pessoas profissionalmente, ou simplesmente porque tivemos empatia por elas, ou ainda por vários outros motivos. O que é preciso avaliar é qual o nosso papel nestas relações, qual o impacto que a minha postura ou influência causa na vida do outro?
Por influência compreendemos como tudo o que nos rodeia ou que nos fornece subsídios para constituição pessoal e que tem como conseqüência um resultado direto em nossa personalidade. Observamos a influência televisiva como exemplo:
O corpo humano reage a imagens reais e principalmente ideais, respondemos a representações concretas daquilo que julgamos ser coerente e palpável, remodelando e adaptando nossas escolhas de acordo com os conceitos sociais impostos em cada época. A televisão influência nossas preferências (o que vestir o que comprar o que comer) altera hábitos e especialmente a comunicação familiar, que neste caso específico a diminuí.
Hoje também se fala muito nas influências do pensamento positivo e dos incríveis eventos que podem se realizar pelo simples fato de pensar positivamente podemos acreditar que isto é verdade?
No cérebro humano ocorrem estímulos elétricos todo o tempo e o resultado da dinâmica neuronal influencia diretamente o humor, especialmente quando o corpo humano precisa produzir os hormônios do estresse que tem ligação direta com a consolidação de memória. Estes hormônios são imunossupressores, ou seja, eles diminuem nossas resistências naturais e deixa o corpo a mercê de doenças especialmente as doenças mentais. O pensamento positivo estimula a produção de serotonina que é o hormônio responsável pela sensação de prazer e está presente em todo o sistema nervoso, ou seja, pensar positivamente faz bem a saúde.
O corpo humano é a máquina mais complexa, fantástica e intrigante produzida pela natureza, podemos explanar melhor sua complexidade compreendendo seu mecanismo de funcionamento ou sua fisiologia.
Fisiologia é o estudo das funções do organismo vivo e incluí todos os processos físicos químicos. Todo o tempo o corpo busca o equilíbrio de seus processos internos que chamamos de homeostase, estes processos são sincrônicos e qualquer interferência em um deles acarreta uma conseqüência direta ao organismo. Vejamos apenas um processo à difusão.
O corpo é constituído por células e a difusão celular é constituída por trocas de líquidos entre as células, é como um processo de alimentação ou ingestão de proteínas e excreção, o fato é que na difusão não ocorre apenas a troca de líquidos, mas também de íons. A carga elétrica presente nas células é responsável pela comunicação entre o corpo e o cérebro (SNC), e como todo esquema elétrico estas cargas possuem pólos positivos e negativos. Teoricamente para se manter em equilíbrio a célula deveria conter na mesma proporção íons negativos e positivos, mas não é assim que ocorre, na difusão mais íons positivos são expulsos para fora das células restando em seu interior mais cargas negativas promovendo um enorme desequilíbrio celular, mas primordial para manter todo o corpo em equilíbrio. Neste processo uma simples bactéria pode alterar esta sintonia e como uma trilha feita de dominós vai derrubando processo a processo até promover uma patologia específica.
Nossos relacionamentos são semelhantes a estes processos internos, um evento isolado pode desencadear e derrubar toda uma cadeia de eventos e também como uma trilha de dominós vai derrubando um a um até se manifestar como um mal estar, briga ou rancor, depressão. Uma palavra grosseira ou mal colocada pode acabar com o dia de uma pessoa ou de sua família inteira exatamente como faz a bactéria maléfica dentro do organismo humano.
Qual a importância de nossas influências na vida das pessoas, qual o impacto de nosso mau humor, irritação, palavras intratáveis dentro de nosso círculo de relações e até onde isso tem conseqüência para o receptor destas reações, e é obvio que neste círculo estão inclusos nossos familiares. Qual o nosso papel que representamos para estas pessoas? Somos as cargas positivas para aqueles que fazem parte de nossas vidas ou somos as bactérias? Qual o nosso papel dentro de nossas relações familiares. Temos importância na vida de todos que nos cercam e a vida de uma pessoa nunca mais é a mesma pelo simples fato de que um dia ela te conheceu, te ouviu, te fez um favor, recebeu uma bronca, recebeu carinho, é como um brinquedo de massinha que depois de ter sua forma original alterada nunca mais retorna ao que era antes e você se torna influência para esta pessoa, uma influência para o resto de sua vida.
Percebemos as situações de acordo com as nossas experiências anteriores, nossas expectativas e necessidades, mas sempre nos deixamos influenciar por fatores circunstanciais.
“Relações Humanas” juntas estas palavras traduzem o significado do convívio social humano e realmente o que vale em nossas vidas é aquilo que fazemos aos outros.

“a vida é um eco, se você não está gostando do que está recebendo, então preste atenção no que você está emitindo” (Lair Ribeiro)

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

A BISSEXUALIDADE DO APARELHO PSIQUICO E A MANIPULAÇÃO MASCULINA


Segundo Jung o ser humano possui uma bissexualidade psíquica herdada pelas experiências raciais do homem com a mulher e da mulher com o homem. Assim ele conceitua a idéia dos arquétipos Anima (arquétipo feminino no homem) e Animus (arquétipo masculino na mulher). Em outras palavras vivendo com mulheres através do tempo o homem adquiriu características femininas e vivendo com homem a mulher tornou-se masculinizada.
Para a psicanálise o falo não é só o órgão masculino em sua realidade, mas tão logo uma representação simbólica da onipotência e invulnerabilidade como características únicas e herdadas ao homem. Logo observamos um potencial fálico em algumas mulheres, quando ela toma a frente nas decisões especialmente nas relações entre ela e indivíduos do sexo oposto.
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Rebeca fala ao telefone com seu namorado em alto e bom tom:
“Olha, eu não posso lhe ver hoje porque tenho de arrumar minha mala, eu vou viajar, vou para Paris, então quando voltar se ainda nos encontrarmos eu decido se ficamos juntos ou não”.

“O animus é uma instância que engendra opiniões espontâneas e involuntárias trazendo uma influência sobre as emoções da mulher”. C.G. Jung (1961).

Usamos este breve monologo para ilustrar o que compreendemos por potencial fálico feminino.
As mulheres fálicas agem centradas no direito do seu próprio gozo, não abre mão do poder que usa sem pudor e culpa, e ao que observamos, percebemos que a mulher de hoje tem mais dificuldade para falar de seus sentimentos que de suas realizações sexuais. Para Jung essa capacidade de decidir com quem ficar, quando, onde e porque é atribuída por meio da razão que é uma encarnação do animus na mulher, ou seja, esta falicidade é a instância pensante do animus, pois a mulher está buscando sua emancipação completa em termos masculinos como um contra golpe a repressão e a privação a qual foi submetida por muito tempo.

“Algumas mulheres se exacerbam e passam a se comportar com desprezo pelo homem e supervalorizar o prazer sensorial orgástico equivalente as práticas masculinas de machismo”. Branden (2002).

Contudo também observamos que parte desta emancipação é representada por meio da exposição promíscua do corpo feminino, com um vestuário que supervalorizam os atributos mais desejados pelo homem a ponto de se auto coisificar para atender ao seu desejo e principalmente do homem, ou seja, a mulher recebe os títulos de objeto, frutas, animais, brinquedos entre outras coisas.
O homem por sua vez, com o objetivo de manipular a mulher fálica, suplanta a promiscuidade como atributo de emancipação no comportamento feminino.

“... suas liberdades estão limitadas a serem objetos de desejo e não indivíduos desejosos” Pereira, R. “A coisificação da mulher”. http://lostresiano.blogspot.com/, São Paulo, 2008

Para Jung o arquétipo da anima (ideal feminino no homem), constitui o referencial de mulher apreendido pelo homem ao longo do seu processo de individuação.

“Todo homem carrega dentro de si a eterna imagem da mulher, não a imagem desta ou daquela mulher em particular, mas uma imagem feminina definitiva. Esta imagem é ...uma marca ou arquétipo de todas as experiências ancestrais do feminino, um depósito, por assim dizer, de todas as experiências ancestrais do feminino, um depósito de todas as impressões já dadas pela mulher ... Uma vez que esta imagem, é inconsciente, ela é sempre inconscientemente projetada na pessoa amada e é uma das principais razões para atrações ou aversões apaixonadas”. (Jung, 1931b, p 198)

O homem tenta identificar sua imagem idealizada de mulher como a mulher real, mas, se não levar em conta as discrepâncias entre o ideal e o real pode sofrer um amargo desapontamento quando perceber que as duas não são idênticas. (Hall 1972). Acreditamos que a mulher fálica causa no homem um choque, pois o modelo fálico apresentado atualmente pela mulher diverge da mulher idealizada pela anima e um possível mecanismo de tentar restabelecer esta mulher seria coisificando-a, pois Jung dizia “a Anima produz caprichos...” e, esta coisificação seria a conseqüência desta exigência da anima.
Todavia a sensibilidade masculina, que a milênios foi intensamente reprimida em função de sua dominância patriarcal, hoje é entre outras coisas uma ferramenta arquetípica em função da necessidade de contenção da falicidade feminina.
A anima costuma ser representada pela sereia, ninfa etc..., Análogo a sensibilidade do canto das sereias que iludem os marujos para levá-los a morte, concluímos que a sensibilidade inconscientemente utilizada em um contato inicial pelo homem com a mulher fálica, tem por objetivo neutralizar o potencial fálico feminino, por meio da manipulação e da mesma forma torna todo comportamento da mulher fálica em promiscuidade, coisificando seu papel fálico diante da sociedade, assim o homem trás e tem de volta o seu papel patriarcal de decisão em relação a sua posição social.
Acreditamos que esta composição é muito precisa pois trata-se de uma visão macroscópica de uma abordagem microscópica, mas principalmente por se tratar dos pontos concernentes aos comportamentos humanos quando equiparados as teorias até então estudadas.


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terça-feira, 20 de janeiro de 2009

A OBSCURIDADE HUMANA


“o homem é o lobo do homem” Thomas Hobbes

Acreditar no potencial humano sobretudo se torna uma tarefa fácil quando se levado em consideração esta afirmação Hobesiana. A disputa é uma característica intrínseca ao ser e ao mesmo tempo é o tumor que o mantêm distante do ser humano perfeito, um ser utópico e que é projetado a todo momento em símbolos figurativos de outros planetas (ets), divindades (deuses mitológicos, “pagãos” e “cristãos”), ou máquinas (robôs super inteligentes e convergentes), criações para acalentar os limites da imperfeição humana e como conseqüência de ser naturalmente mau o homem cria a instituição governamental.
Entretanto o direito do homem, em todos os casos, reduz-se à força; mas distingue dois momentos na história da humanidade: o estado natural e o estado político segundo Hobbes. No estado natural, o poder de cada um é medido por seu poder real; cada um tem exatamente tanto de direito quanto de força e todos só pensam na própria conservação e nos interesses pessoais. Para Hobbes, o homem se distingue dos insetos sociais, como as abelhas e as formigas; por isso, o homem não possui instinto social. Ele não é sociável por natureza e só o será por acidente.
Para compreender como o homem se resolve a criar a instituição artificial do governo, basta descrever o que se passa no estado natural; o homem, por natureza, procura ultrapassar todos os seus semelhantes: ele não busca apenas a satisfação de suas necessidades naturais, mas sobretudo as alegrias da vaidade. O maior sofrimento é ser desprezado. Assim sendo, o ofendido procura vingar-se, mas - observa Hobbes, antecipando aqui os temas hegelianos - comumente não deseja a morte de seu adversário e deseja seu cativeiro a fim de poder ler, em seu olhar atemorizado e submisso, o reconhecimento de sua própria superioridade. Sob este prisma o homem é capaz de realizar feitos notáveis inclusive maiores que ele próprio, que transpassem as barreiras do possível realizável exatamente por tentar não superar a si próprio, mas para que se sinta livre da angústia do desprezo, abandono e solidão que o persegue inescrutavelmente desde sua concepção e sobretudo porque deseja ser e sentir – se amplamente superior a outro ser.
Mas onde entra a obscuridade nesta crônica? Exatamente por possuir uma parte obscura é que nos deixamos manter no obscurantismo, não apenas na ausência de luz, mas por permitir que tirem nossas iluminações nos deixando cegos ou no mais absoluto escuro em oposição a todo progresso intelectual ou material. Talvez a real inerência ao homem é a sapiência ou a capacidade de adquirir novas aptidões a partir de aptidões já pré-determinadas, aptidão que é engessada quando nos engajamos cegamente em cumprir com a vontade inexorável de uma alcatéia de lobos que transforma em alimento a incapacidade em conhecer o potencial incrível existente em todo ser humano, mesmo sendo seu próprio lobo.
Não se trata de uma crônica beligerante, tampouco uma crítica direta à maldade concernente e inata ao homem, mas uma reflexão precisa sobre os possíveis caminhos que um dia mesmo que ilusoriamente possa o homem escolher para si mesmo acreditando em seus potenciais e desacreditado de seus limites, pois ao sair do obscurantismo lhe ocorre um mundo de diferentes sabores, sensações e principalmente de iluminações que ele possa experimentar, não apenas a busca infrene pelo autoritarismo ou superioridade mas como um sinônimo de conversão onde o mal singular é convertido ao bem comum, pois se o mal é inevitável ao homem o bem é uma conseqüência inevitavelmente supreendente.

“bellum omnium contra omnes”. Ou seja “todos os homens odeiam-se naturalmente uns aos outros". Thomas Hobbes.

Por Anderson Fonseca.
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REENCONTRO COM A SANIDADE


Viver novas experiências é com certeza uma saída terapêutica, foi o sentimento que ficou caracterizado ao final de minha visita ao manicômio judiciário de Franco da Rocha ao se deparar com a condição e a variabilidade de comportamentos e reações dos internos e principalmente a minha.
A visita que foi cautelosamente estruturada física e psicologicamente pelo professor Cláudio Cobianchi e que me trouxe além de conhecimento prático um interesse ainda maior pela causa. Inicialmente havia o receio de não estar preparado para o que pudesse encontrar e apesar de toda a preocupação a esse respeito não havia a plena segurança de que esta experiência não me tocaria de forma tão agressiva.
Ao observar a instituição pelo lado de fora não se tem a impressão de que uma prisão, mas uma escola ou um internato mas ao adentrar pelos portões é que se tem a real percepção da função efetiva do cárcere. Após a conversa com a psicóloga fiquei curioso ao saber que ali onde estávamos teria um baile para os internos (pois eu não fazia nem idéia de que isso era possível), e ao caminhar em direção ao pavilhão 5 da normativa I foi que me deparei com um amigo de infância e que a tempos não o via, em um primeiro momento não o havia reconhecido mas logo em seguida sua imagem foi se organizando em minha memória, me senti incomodado e ao mesmo tempo um temor extenso me invadiu por não saber que ele estava internado ali e por reconhecer nele uma forma direta a possibilidade e a fragilidade do ser humano em particular do aparelho psíquico. Me recordo das brincadeiras que fazíamos enquanto trabalhávamos juntos e o quanto ele gostava disto e em um primeiro momento acreditei que não me reconheceria o que posteriormente não se comprovou pois ele também disse que sentiu uma sensação semelhante a minha ao e ver do outro lado fora de sua realidade, estando ali como visitante, estudante e não como interno.
Todavia a sanidade me parece um fio delgado uma vez em um momento estávamos em um mesmo rumo e agora o papel se inverte completamente, ele na posição de analisando e eu fazendo o estudo de seu caso.
Já na normativa II a experiência com um outro interno (e que nada demonstrava de doente crônico) onde ele tocando violão fazia sua terapia, talvez seja uma outra saída para a reabilitação psicossocial usar a música ou o instrumento musical como um objeto transicional winicottiano.
Definitivamente um trabalho que me deixou muito interessado e uma provavel linha a qual eu possa me dedicar.

Por Anderson Fonseca
para entender um pouco do que é a instituição manicomial recomendamos as leituras