terça-feira, 20 de janeiro de 2009

A OBSCURIDADE HUMANA


“o homem é o lobo do homem” Thomas Hobbes

Acreditar no potencial humano sobretudo se torna uma tarefa fácil quando se levado em consideração esta afirmação Hobesiana. A disputa é uma característica intrínseca ao ser e ao mesmo tempo é o tumor que o mantêm distante do ser humano perfeito, um ser utópico e que é projetado a todo momento em símbolos figurativos de outros planetas (ets), divindades (deuses mitológicos, “pagãos” e “cristãos”), ou máquinas (robôs super inteligentes e convergentes), criações para acalentar os limites da imperfeição humana e como conseqüência de ser naturalmente mau o homem cria a instituição governamental.
Entretanto o direito do homem, em todos os casos, reduz-se à força; mas distingue dois momentos na história da humanidade: o estado natural e o estado político segundo Hobbes. No estado natural, o poder de cada um é medido por seu poder real; cada um tem exatamente tanto de direito quanto de força e todos só pensam na própria conservação e nos interesses pessoais. Para Hobbes, o homem se distingue dos insetos sociais, como as abelhas e as formigas; por isso, o homem não possui instinto social. Ele não é sociável por natureza e só o será por acidente.
Para compreender como o homem se resolve a criar a instituição artificial do governo, basta descrever o que se passa no estado natural; o homem, por natureza, procura ultrapassar todos os seus semelhantes: ele não busca apenas a satisfação de suas necessidades naturais, mas sobretudo as alegrias da vaidade. O maior sofrimento é ser desprezado. Assim sendo, o ofendido procura vingar-se, mas - observa Hobbes, antecipando aqui os temas hegelianos - comumente não deseja a morte de seu adversário e deseja seu cativeiro a fim de poder ler, em seu olhar atemorizado e submisso, o reconhecimento de sua própria superioridade. Sob este prisma o homem é capaz de realizar feitos notáveis inclusive maiores que ele próprio, que transpassem as barreiras do possível realizável exatamente por tentar não superar a si próprio, mas para que se sinta livre da angústia do desprezo, abandono e solidão que o persegue inescrutavelmente desde sua concepção e sobretudo porque deseja ser e sentir – se amplamente superior a outro ser.
Mas onde entra a obscuridade nesta crônica? Exatamente por possuir uma parte obscura é que nos deixamos manter no obscurantismo, não apenas na ausência de luz, mas por permitir que tirem nossas iluminações nos deixando cegos ou no mais absoluto escuro em oposição a todo progresso intelectual ou material. Talvez a real inerência ao homem é a sapiência ou a capacidade de adquirir novas aptidões a partir de aptidões já pré-determinadas, aptidão que é engessada quando nos engajamos cegamente em cumprir com a vontade inexorável de uma alcatéia de lobos que transforma em alimento a incapacidade em conhecer o potencial incrível existente em todo ser humano, mesmo sendo seu próprio lobo.
Não se trata de uma crônica beligerante, tampouco uma crítica direta à maldade concernente e inata ao homem, mas uma reflexão precisa sobre os possíveis caminhos que um dia mesmo que ilusoriamente possa o homem escolher para si mesmo acreditando em seus potenciais e desacreditado de seus limites, pois ao sair do obscurantismo lhe ocorre um mundo de diferentes sabores, sensações e principalmente de iluminações que ele possa experimentar, não apenas a busca infrene pelo autoritarismo ou superioridade mas como um sinônimo de conversão onde o mal singular é convertido ao bem comum, pois se o mal é inevitável ao homem o bem é uma conseqüência inevitavelmente supreendente.

“bellum omnium contra omnes”. Ou seja “todos os homens odeiam-se naturalmente uns aos outros". Thomas Hobbes.

Por Anderson Fonseca.
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REENCONTRO COM A SANIDADE


Viver novas experiências é com certeza uma saída terapêutica, foi o sentimento que ficou caracterizado ao final de minha visita ao manicômio judiciário de Franco da Rocha ao se deparar com a condição e a variabilidade de comportamentos e reações dos internos e principalmente a minha.
A visita que foi cautelosamente estruturada física e psicologicamente pelo professor Cláudio Cobianchi e que me trouxe além de conhecimento prático um interesse ainda maior pela causa. Inicialmente havia o receio de não estar preparado para o que pudesse encontrar e apesar de toda a preocupação a esse respeito não havia a plena segurança de que esta experiência não me tocaria de forma tão agressiva.
Ao observar a instituição pelo lado de fora não se tem a impressão de que uma prisão, mas uma escola ou um internato mas ao adentrar pelos portões é que se tem a real percepção da função efetiva do cárcere. Após a conversa com a psicóloga fiquei curioso ao saber que ali onde estávamos teria um baile para os internos (pois eu não fazia nem idéia de que isso era possível), e ao caminhar em direção ao pavilhão 5 da normativa I foi que me deparei com um amigo de infância e que a tempos não o via, em um primeiro momento não o havia reconhecido mas logo em seguida sua imagem foi se organizando em minha memória, me senti incomodado e ao mesmo tempo um temor extenso me invadiu por não saber que ele estava internado ali e por reconhecer nele uma forma direta a possibilidade e a fragilidade do ser humano em particular do aparelho psíquico. Me recordo das brincadeiras que fazíamos enquanto trabalhávamos juntos e o quanto ele gostava disto e em um primeiro momento acreditei que não me reconheceria o que posteriormente não se comprovou pois ele também disse que sentiu uma sensação semelhante a minha ao e ver do outro lado fora de sua realidade, estando ali como visitante, estudante e não como interno.
Todavia a sanidade me parece um fio delgado uma vez em um momento estávamos em um mesmo rumo e agora o papel se inverte completamente, ele na posição de analisando e eu fazendo o estudo de seu caso.
Já na normativa II a experiência com um outro interno (e que nada demonstrava de doente crônico) onde ele tocando violão fazia sua terapia, talvez seja uma outra saída para a reabilitação psicossocial usar a música ou o instrumento musical como um objeto transicional winicottiano.
Definitivamente um trabalho que me deixou muito interessado e uma provavel linha a qual eu possa me dedicar.

Por Anderson Fonseca
para entender um pouco do que é a instituição manicomial recomendamos as leituras