terça-feira, 20 de janeiro de 2009

REENCONTRO COM A SANIDADE


Viver novas experiências é com certeza uma saída terapêutica, foi o sentimento que ficou caracterizado ao final de minha visita ao manicômio judiciário de Franco da Rocha ao se deparar com a condição e a variabilidade de comportamentos e reações dos internos e principalmente a minha.
A visita que foi cautelosamente estruturada física e psicologicamente pelo professor Cláudio Cobianchi e que me trouxe além de conhecimento prático um interesse ainda maior pela causa. Inicialmente havia o receio de não estar preparado para o que pudesse encontrar e apesar de toda a preocupação a esse respeito não havia a plena segurança de que esta experiência não me tocaria de forma tão agressiva.
Ao observar a instituição pelo lado de fora não se tem a impressão de que uma prisão, mas uma escola ou um internato mas ao adentrar pelos portões é que se tem a real percepção da função efetiva do cárcere. Após a conversa com a psicóloga fiquei curioso ao saber que ali onde estávamos teria um baile para os internos (pois eu não fazia nem idéia de que isso era possível), e ao caminhar em direção ao pavilhão 5 da normativa I foi que me deparei com um amigo de infância e que a tempos não o via, em um primeiro momento não o havia reconhecido mas logo em seguida sua imagem foi se organizando em minha memória, me senti incomodado e ao mesmo tempo um temor extenso me invadiu por não saber que ele estava internado ali e por reconhecer nele uma forma direta a possibilidade e a fragilidade do ser humano em particular do aparelho psíquico. Me recordo das brincadeiras que fazíamos enquanto trabalhávamos juntos e o quanto ele gostava disto e em um primeiro momento acreditei que não me reconheceria o que posteriormente não se comprovou pois ele também disse que sentiu uma sensação semelhante a minha ao e ver do outro lado fora de sua realidade, estando ali como visitante, estudante e não como interno.
Todavia a sanidade me parece um fio delgado uma vez em um momento estávamos em um mesmo rumo e agora o papel se inverte completamente, ele na posição de analisando e eu fazendo o estudo de seu caso.
Já na normativa II a experiência com um outro interno (e que nada demonstrava de doente crônico) onde ele tocando violão fazia sua terapia, talvez seja uma outra saída para a reabilitação psicossocial usar a música ou o instrumento musical como um objeto transicional winicottiano.
Definitivamente um trabalho que me deixou muito interessado e uma provavel linha a qual eu possa me dedicar.

Por Anderson Fonseca
para entender um pouco do que é a instituição manicomial recomendamos as leituras

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